Dificuldades de gestores na escolha e preocupação financeira e ambiental motivaram criação do programa por pesquisadores da USP.
Software desenvolvido na USP (Universidade de São Paulo) em Ribeirão Preto compara seis tipos diferentes de estações de tratamento de esgoto sanitário mais usados no País, apresentando os respectivos custos de implantação, operação e manutenção para auxiliar gestores municipais na escolha do mais adequado para a sua cidade.Batizado de ETEx, a ferramenta pretende otimizar os investimentos dos municípios brasileiros nesta área, barateando custos com adequação ambiental. Para o desenvolvimento do programa, a equipe estudou 61 projetos de estações de tratamento de esgoto e realizou entrevistas com órgãos de gestão e especialistas em saneamento básico no Brasil.
“Os dados coletados serviram de suporte à montagem do software, após validação com a realidade dos 5.570 municípios brasileiros”, revelam os autores do projeto, professores Sonia Valle Walter Borges de Oliveira, Marcio Mattos Borges de Oliveira e Alexandre Bevilacqua Leoneti, todos do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (Fearp) da USP.
A nova ferramenta mostra os seis melhores modelos de Estação de Tratamento de Esgoto Sanitário (ETEs). Assim, para escolher o sistema adequado para sua cidade, basta o gestor entrar com informações pessoais, como nome, formação, profissão, instituição, município, estado, e-mail e senha e com dados do projeto (quantidade de habitantes, vazão média, vazão total e temperatura média do mês mais frio). Logo após, ao clicar “Comparar alternativas de ETEs”, serão apresentadas as seis alternativas de sistemas e, com isso, o gestor escolhe a melhor para a realidade do município.
“É inegável a contribuição do tratamento de esgoto para a preservação das águas. Se a ferramenta colabora para baratear o processo de escolha das ETEs, o meio ambiente também sairá ganhando”, argumenta a professora Sônia. Aspectos econômicos, como investimento em saneamento e o tratamento do esgoto sanitário, serão beneficiados pela tomada de decisão mais assertiva do gestor, que “poderá dispensar custos da elaboração de diversos projetos e orçamentos para obter essas informações”.
Ainda de acordo com a professora, a expectativa é que o programa de computador ajude países que ainda têm dificuldade na implantação de ETEs. “Espero que a plataforma possa ser o passo inicial para o processo de universalização do tratamento de esgoto, tanto no Brasil quanto em outros países que ainda possuem dificuldades nesse setor”.
Para a pesquisadora, muitas vezes o tratamento não foi implantado por falta de informações mínimas básicas, como estimativa de custo das instalações do projeto executivo, das dimensões do terreno ou do valor de operação e manutenção pelos próximos 20 anos. “Essas informações, dentre muitas outras, são fornecidas pela plataforma ETEx”, disse. Segundo os professores, o governo do Chile se interessou pela tecnologia para instalar estações de tratamento de esgoto em áreas rurais, “já que o país tem 100% do esgoto tratado por empresas terceirizadas nas regiões urbanas”.
Rede de esgoto ainda patina no Brasil
O software ETEx pode ser a alternativa para o Brasil alcançar a meta do compromisso que firmou com a Organização das Nações Unidas (ONU), de tratar 100% do esgoto até 2030. Sem contar que esse é um investimento em saúde pública e na preservação do meio ambiente. De acordo com dados da Trata Brasil, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), no País somente 45% do esgoto sanitário é tratado, serviço que chega a 52% da população, ou seja, aproximadamente 100 milhões de brasileiros não contam com o serviço básico de tratamento de esgoto. Entre as 100 maiores cidades do País, mais de 3,5 milhões de pessoas despejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis.A média das 100 maiores cidades brasileiras em tratamento dos esgotos foi de 50,26%. Apenas dez delas tratam acima de 80% de seus esgotos. Diante disso, a escolha do sistema de tratamento a ser instalado em uma cidade pode tornar-se uma difícil decisão aos responsáveis, uma vez que diversos fatores interferem em seu custo, funcionalidade e na qualidade ambiental.
[fonte: Jornal da USP]