Grande parte do gás de efeito estufa no Brasil vem da agropecuária
O desafio das emergências climáticas tem grande peso para o agronegócio brasileiro e a cobrança por soluções em prol do meio ambiente recai especialmente sobre a pecuária. De acordo com dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Remoções de Gases de Efeito Estufa, 71,85% do metano (CH4) emitido no Brasil vem do setor.
O gás tem potencial de aquecimento 25 vezes maior que o dióxido de carbono (CO2), por exemplo, e é gerado, principalmente, na digestão dos ruminantes, como bovinos, caprinos e ovinos. É que o capim ingerido pelos animais passa por microrganismos em um de seus compartimentos estomacais, o rúmen. O resultado é a quebra da celulose em carboidratos que, posteriormente, são transformados em ácidos graxos de cadeia curta. Esses ácidos funcionam como combustível, mas, fora a energia ganha, há também os resíduos excedentes liberados ao final da digestão. Um deles é o CH4.
A notícia boa é que é possível diminuir a emissão do metano com a melhora do manejo e da qualidade nutricional da pastagem. “Já foi constatado que, quando cresce muito e passa da altura ideal de pastejo, o capim fica mais fibroso, aumentando a produção do CH4”, explica a coordenadora-adjunta da Câmara Especializada de Agronomia do Crea-SP, Dra. em Agronomia e Eng. Agr. Gisele Herbst Vazquez. “Mas o pasto também é uma lavoura e precisa ser manejado para se desenvolver adequadamente e essa mudança de comportamento já vem acontecendo entre os pecuaristas, graças aos avanços dos conhecimentos agronômicos”, completa.
Melhores pastos, melhor produtividade
Aproximadamente 21% de todo o território nacional é destinado às pastagens, entre áreas nativas e plantadas, que nutrem cerca de 220 milhões de cabeças de gado do país. No entanto, mais da metade de todo esse pasto está em situação de degradação.
“Os locais degradados poderiam ser recuperados e convertidos para agricultura, aumentando a produção de alimentos e mantendo a área já ocupada, sem desmatar ou retirar vegetação nativa de outros espaços. Ou seja, não precisamos ampliar a pastagem atual, apenas torná-la mais eficiente”, afirma Gisele.
Segundo a engenheira agrônoma, são as estratégias de manejo e recuperação do solo que fazem a diferença neste momento, aumentando a produção de forragem (capim) e a produtividade animal. Tornar o pasto mais sustentável requer então análise do solo, calagem, adubação, controle de erosão, pragas e doenças, escolha da espécie mais adequada para o plantio no local, pastejo rotacionado (divisão da área em três ou mais piquetes, que são submetidos a períodos alternados de pastejo e descanso), consorciação de espécies gramíneas e leguminosas, entre outras técnicas.
Especificamente para a redução da produção de metano proveniente da pecuária, as pesquisas em Agronomia têm trabalhado também no melhoramento genético para desenvolver plantas mais digestíveis e vacinas antimetanogênicas que fazem o próprio organismo dos ruminantes diminuir a emissão do gás com a produção de anticorpos.
Outras iniciativas visam o melhoramento genético animal, a redução do intervalo de gerações, a interação lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o balanceamento nutricional de dietas com uso de aditivos e probióticos.