Material, abundante no Brasil, é promissor, mas ainda é produzido em quantidade insuficiente para demanda global As baterias à base de lítio são fundamentais em um mundo cada vez mais tecnológico. Presentes nos celulares, carros e computadores, os itens também são necessários para as energias renováveis em expansão. O lítio – um dos metais mais leves da tabela periódica e que tem alto potencial eletroquímico – é essencial para a fabricação dessas baterias, o que já não é mais uma promessa para a energia do futuro, mas uma realidade. O mercado o chama de “petróleo branco” e o Brasil é um dos países com boas reservas do mineral, encontrado no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais; na província de Borborema, entre os estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará; e na província de Solonópole, também em território cearense. A produção mundial de lítio quadruplicou em 15 anos e, segundo o presidente da Associação Paulista de Engenheiros de Minas (APEMI), Eng. Minas Nelson Mitihiro Tsutsumi, deve continuar em ascensão. Sobre o assunto, ele foi o entrevistado da Revista CREA São Paulo. Como o lítio é obtido e onde mais é utilizado? Nelson Mitihiro Tsutsumi: O concentrado de lítio pode ser obtido através de minérios, como o espodumênio, e por meio de salmouras com alto teor do mineral. Independentemente da forma de obtenção do concentrado, são obtidos produtos para os mais distintos fins. Dois desses destacam-se: carbonato de lítio e hidróxido de lítio, necessários para a fabricação de baterias de veículos elétricos. Em 2022, cerca de 10 milhões de veículos elétricos foram vendidos em todo o mundo e a estimativa é que 2023 feche com um crescimento de 30% em relação ao ano passado. No Brasil, nos primeiros oito meses deste ano, o mercado de veículos eletrificados cresceu 76% em comparação com o mesmo período de 2022, segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Que países lideram a produção do material e como o Brasil se insere nesse cenário? NMT: Para suprir a atual demanda mundial, não somente para baterias, mas para a fabricação de vidros, graxas e demais utilidades, estima-seque, em 2021, a produção mundial de lítio contido foi de 104,8 mil toneladas, com um salto, em 2022, para 130 mil t. A Austrália é líder, com cinco das oito maiores minas de lítio do mundo, mas a América do Sul é o continente de grande destaque: Argentina, Chile e Bolívia formam, juntos, o que chamamos de “triângulo do lítio”, concentrando mais da metade de recursos e reservas globais, o que quer dizer que esses países podem ser capazes de controlar o preço do metal de forma semelhante ao que ocorre com o petróleo no Oriente Médio. Só a Bolívia possui, em recursos, quase 25% de todo o lítio global. Apesar do enorme potencial de ser uma das maiores produtoras, a nação vizinha tem uma política de controle estatal de diversos minérios, inclusive do petróleo branco. Novas propostas para explorar esse recurso foram feitas em escala mundial. O Brasil também se destaca. A estimativa é que estejamos produzindo cerca de 1.500 toneladas ao ano. Nesse sentido, quais são as expectativas para os próximos anos? NMT: O Brasil possui planos de aumentar substancialmente a produção de concentrado de lítio. Estudos geológicos estão sendo realizados em Minas Gerais, com a finalidade de suprir uma fatia da demanda. Empresas têm investido em pesquisas e adiantado novos empreendimentos. Assim, a produção deve aumentar em, pelo menos, cinco vezes. A alta da demanda pode causar entusiasmo, euforia e esperança quanto a um futuro no qual veículos terrestres não precisarão de combustíveis fósseis. Porém, diversas questões colocam em dúvida se este futuro será possível. A principal consiste na demanda superior a uma oferta mais otimista. É certo que veremos outros minerais e novas tecnologias nos próximos anos. O que diz a legislação brasileira sobre o assunto? NMT: O Decreto no 11.120/2022 liberou a importação e exportação de lítio sem necessidade de prévia autorização e pode contribuir para atrair empresas a investirem em empreendimentos mineiros e, assim, aumentar a produção nacional. Conforme nota da ABVE, tanto São Paulo quanto qualquer cidade do Brasil pode possuir uma frota de ônibus elétricos com a atual cadeia produtiva. “O Brasil se destaca no cenário mundial de energias renováveis, tecnologias limpas e verdes. Um bom legado para o presente e para as próximas gerações ”.